Filosofia e Tecnologia

Identidade e Comunidade nas Redes Virtuais

    A atual sociedade em rede (termo usado pelo sociólogo Manuel Castells) constitui-se em uma nova forma de organização social, em âmbito mundial, que alcança todos os níveis da sociedade e que deve seu surgimento às novas tecnologias e aos novos meios de comunicação de massa. Por sua amplitude e alcance universal é capaz de promover uma reorganização das estruturas relacionais entre indivíduos e grupos de pessoas, pois, funda-se sobre uma  comunicação em rede, que, ao compartilhar o mesmo lócus virtual, pode formar identidades que ultrapassam o território geográfico.

    As fronteiras que davam os limites entre o próximo e o distante, entre o familiar e o estranho deixam de existir uma vez que quase não são mais perceptíveis. O fluxo contínuo pelas infovias possibilita a interação nas redes virtuais desencadeando mudanças na organização social, assim como nas relações de trabalho,  atingindo inevitavelmente os interesses políticos e econômicos. Tudo isto pode levar à transformação de culturas e gerar um abalo nas próprias identiidades individuais que antes eram formadas pelas tradicionais comunidades físicas.

    A mudança radical e irreversível pela qual passa a sociedade afeta os modelos de comunidades nas quais estávamos inseridos, ou seja, aquela comunidade construída através dos laços afetivos duradouros e presenciais,formadora das identidades pessoais, a qual criava significado e reconhecimento entre as pessoas e a sociedade passa a ser substituída por novas comunidades, agora virtual.

 

    As relações intersubjetivas ocorriam muitas vezes por afinidades de idéias e princípios fundados por laços de solidariedade, ou ainda, por serem partes integrantes da vida social e também dos núcleos político-culturais de um local determinado. As comunidades nestes moldes têm sido substituídas, principalmente pelos mais jovens, por comunidades virtuais marcadas pela sua efemeridade e distanciamento físico.

    As novas comunidades favorecem a desconstrução das identidades individuais, sociais, culturais, profissionais e religiosas, uma vez que as condições de pertencimento e identidade passam a ser determinadas pelas decisões do próprio indivíduo, e não mais formadas por grupos de pessoas vinculadas umas às outras, por tradição ou destino, cujos membros têm uma ligação mais enraizada.

    As comunidades representavam um abrigo em relação aos efeitos deuma globalização, os seus membros possuíam uma identidade sólida erígida dentro de  um mundo de diversidades, mas atualmente tornou-se praticamente impossível tentar recuperar qualquer tipo de identidade nos moldes do passado.Diante das transformações pelas quais passa a sociedade são exigidos novos comportamentos e novos referenciais para que as comunidades voltem a representar a segurança diante de algo que ainda é desconhecido; é necessário, portanto, reconstruir uma nova identidade individual ou coletiva.

    Não podemos avaliar aspectos puramente negativos de todos estes acontecimentos, apenas afirmar que não é possível negar tais transformações e nem tentar  compreendê-las a partir de conceitos construídos no passado, isto é, o momento que vivemos exige novas posturas e novos conceitos.  

 

Sandra Olades Ventureli

Professora universitária, mestre em filosofia