Arte e Literatura

Escrever, a afirmação da vida 

    

    Lygia Fagundes Telles afirma que o autor escreve para negar a morte. Consistiria nesta tônica o motivo maior em escrever e, por ventura, publicar?

    Em conversa com um amigo, cujos textos enunciam um lirismo arrebatador, ele indaga quais as razões do meu fazer literário, qual o propósito em lançar um livro. Na sua ânsia por respostas, contra-argumenta que o fato dos leitores merecerem esta ou aquela produção não prepondera uma justifica. Ele deseja mais. Como fonte límpida a jorrar na manhã do sertão, apresento-lhe as minhas realidades, mergulho fundo nas circunstâncias e glórias de enamorar o ofício das palavras.

    Aprendi desde cedo a digladiar com fantasmas, entre estes: o perfeccionismo. Pouco acreditava em mim. Colecionava incertezas. Alisava culpas. Escrever era catarse e só. No máximo, alimentava um blog (É o Menino-Homem?) e postava textos pelas redes sociais. Tudo passível ao olhar criterioso e imperdoável do carrasco que criei. Em 2011, a convite do poeta e professor Carlos Gildemar Pontes, participei de uma coletânea de artigos sobre literatura. Uma experiência louvável. Um salto de coragem – para alguém que não vislumbrava em si a possibilidade de escrever como chama de vida.

    Em 2012, após sucessivas crises de ansiedade, quando o mundo sucumbia em mim; Gildemar encorajou-me a enviar um poema para concorrer ao Prêmio de Poesia Livre – Novos Poetas (Vivara Editoral Nacional). Para minha surpresa, fui contemplado. Um vigor indispensável para a construção do “Pétalas Raras” (2013), uma obra que nasceu da dor e nela floresceu. Na compilação e revisão dos poemas. Nas noites em claro. Na montanha russa das incertezas e coragens. Durei até ali para vivenciar o sagrado. O espetáculo de cores da Poesia. Nela encontrei “motivos” para acreditar. E acreditar, para mim, é escrever. Minha alma, meu corpo, meu espírito passaram a necessitar desta liturgia. Uma vez que não escrevo, não existo. Acredito que o leitor também participa desta comunhão. Confiro a mim, pois, a missão de espelhar os grãos de tal bem-aventurança.

    Não sei se meus argumentos convenceram o meu nobre amigo. Não sei se consegui responder a provocação que elenquei a princípio. Na verdade, não ambiciono afirmativas. Agora estou em “Estado de Graça”, a fé e rebento de cada manhã. Naquele que lê a “flor” que escrevo, renasço nele e renascer é fulgurar! 

Abraão Vitoriano,

Professor e Escritor.

Da poesia do cotidiano

    

    Insistir na vida é praticar poesia. Não há cartilha para o amor. Ninguém inventou remédio para atenuar a raiva. É digno do humano viajar em sentidos: tropeçar e sorrir, morrer pra ressuscitar. É dinâmica, ciclo.

    Assim como nos teares poéticos, também é o cotidiano comum. Há inúmeras substâncias, gestos, cores e seleciono ao mesmo tempo em que aprendo. Impossível é escapar ileso desse tempo natural das coisas, sendo eu pobre criatura de lágrima e osso que carrega um adesivo de sobrevivente. Burra ilusão, se pintar de feliz, e não viver o que se escreve. 

    Confesso que tal postura inquieta: seguir a moda, pois linha e agulha estão fora de moda. Inadmissível esquivar-se do prazer de descobrir, de fazer dos retalhos cocha e ser dono senhor da sua história. Considero um brinde as palavras de Adélia Prado: “Não quero faca. Nem queijo. Quero a fome."

    Pela fome, revelemos o que somos, por mostrar as precariedades e selvagerias habitantes do ser e banais a todos, independentes de qualquer classificação.  Falo da essência universal, do talento de ser desejo, da boca almejando água, das mãos no sinal da cruz antes do apetitoso prato. Que importa os bons modos, se o escorrer na boca é o que mais se aproxima do divino?! A mãe dando de comer ao filho, no peito a chama da vida. 

    Fotografo poesia em diversos lugares, e isso abastece, acalenta. Não é dom, nem zoom. Trata-se “do aprender a ver”, bem lembrado por Rubem Alves, e deixar o coração armazenar sem compromisso algum... A honesta sensação de admirar! E lápis na mão e o sonho no pé. Amém! 

 

Abraão Vitoriano,

 

Professor e Escritor. 

Arte Urbana