Antropologia

A COMPREENSÃO DE SI: uma ontologia retomando os aspectos existenciais do pensamento em Kierkegaard.

    Estabelecer uma ontologia em Kierkegaard será despir-se de uma filosofiatradicional para cobrir-se com uma teologia prática embasada na fé abraâmica, Abraão será o parâmetro para o indivíduo sublimar-se na existência. Esse amigo de Deus Será o caminho para o homem relacionar-se com o desconhecido. O cavaleiro da fé, em termos gerais, faz a caminhada de sua casa até Moriá, contudo esse “percorrer” não significa uma simples saída, nesse sentido será um percorrer fora do tempo, além de um inicio ético e estético. O caminhar atemporal de Abraão palmilhado pelo desespero, arremeterá o indivíduo ao estado religioso e permitirá um processo de compreensão de si mesmo. Esse meio de compreensão se dá, ao abrir mão do imediato, atendo-se ao devir, ao movimento. O indivíduo kierkegaardiano precisa ter fé para existir e se compreender, de modo que haja uma inversão na máxima cartesiana, primeiro existindo, depois pensando. A ontologia em Kierkegaard exige uma ausência de “eu”. Abraão é seu exemplo perfeito, não há “eu” no cavaleiro da fé, ele ama o infinito, ele ama a Deus. Nesses termos há um lugar de descoisificação para Abraão, esse lugar é Moriá, foi nesse lugar que o amor divino aconteceu. Em Moriá acontece o salto, salto do amor paterno para o amor patético, divinamente patético. O termo possível para pensar uma ontologia em Kierkegaard exigirá rompimento com conceitos basilares da filosofia, contudo, de forma exigente, Sѳren será rigoroso no que se refere a uma Teologia prática, não estagnada em dogmas, antes, possível pela existência de um indivíduo que se silencia diante de si mesmo reduzindo perguntas éticas e estéticas a um angustiante: Deus proverá. Sobre a existência religiosa prosseguirá André Verges e Denis Huisman:

O homem do estágio religioso não é mais aquele que submete sua vida a regras gerais. Ele é um indivíduo diante de Deus e a sua experiência que vive em sua relação com Deus é uma experiência singular que só pode ter sentido para ele, que é absolutamente intraduzível em conceitos gerais. Para Kierkegaard, a experiências da fé é inteiramente estranha ao universo dos conceitos inteligíveis e gerais, ao universo da razão. É nesse sentido que Kierkegaard é um filósofo que recusa a filosofia. (HISTÓRIA DO FILÓSOSFOS ILUSTRADA PELOS TEXTOS, 1984 p.337.)

 

 

 

João Batista Freire

Graduado em Filosofia pela Faculdade Católica de uberlândia e 

mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - MG